terça-feira, 12 de abril de 2011

Gerações assustadas com a violência de São Cristóvão

Fonte: http://www.infonet.com.br
Idosos e jovens lutam por tranquilidade no município de São Cristóvão. Somente este ano, foram registrados 20 crimes
12/04/2011 - 08:16

Idosos e jovens sonham com tranquilidade em São Cristóvão
A violência costuma causar danos emocionais em todas as faixas etárias. Mas no município de São Cristóvão, a falta de segurança vem abalando principalmente os idosos e os jovens. Os primeiros sonham com a tranqüilidade de quando eram crianças e adolescentes nas ruas da quarta cidade mais antiga do país.
O sonho dos jovens é chegar à terceira idade com a paz reinando entre os moradores. Ambos são acometidos por um mesmo pesadelo: dias e noites de angústia e medo por conta do grande número de arrombamentos, assaltos, assassinatos, drogas, roubos, furtos e espancamentos.
Somente este ano, foram registrados 26 homicídios e a média é de 400 inquéritos policiais que estão sendo investigados. No último dia 4, o ajudante de pedreiro José Paulo de Araújo Silva, 31, foi atingido por tiros enquanto trabalhava no Loteamento Rosa do Oeste.
E a preocupação das pessoas mais velhas e mais jovens, tem sentido. Nos últimos meses, além da morte de jovens entre 18 e 24 anos, em sua maioria usuários de drogas principalmente nos conjuntos Eduardo Gomes e Rosa Elze, idosos que residem em sítios localizados nas redondezas do Centro Histórico de São Cristóvão, estão sendo alvo de bandidos.
D. Clemildes: "A violência tá demais"
“Ah! Como era bom antigamente. A gente ficava na porta tomando fresca, conversando até altas horas. As crianças brincando na rua sem nenhum problema, os jovens conversando nas praças, os garotos jogando bola. Eu morava no povoado Ilha Grande e desde 1982 estou aqui na cidade. Mas muita coisa mudou. Agora as pessoas estão em polvorosa. Aqui a violência tá demais. Quem era São Cristóvão, tão calma!”, relembra a aposentada Clemildes Santos Bonifácio, 75 anos.

“Aqui era muito diferente. Era uma cidade pacata, as pessoas vinham se divertir nas festas sem problemas. Agora só fico trancada em casa, de dia e de noite. A gente vai para a missa
D. Maria Fortunato: "Trancada em casa"
e volta com medo. Tô com medo mesmo, todo dia matam gente. Tem muita violência ali no Alto da Divinéia. Mataram um rapaz tão bom, dentro da chácara dele. Eu é que não quero mais sítio. Vendi o meu, pois os bandidos estão invadindo, matando e roubando tudo. Agora, depois que meu marido morreu, vivo trancada”, lamenta D. Maria Fortunato.

Constrangimento
“Nasci em Lagarto, mas me criei aqui, constitui família, fui vereador por cinco mandatos e ao me aposentar coloquei um negócio para tirar xerox, encadernar. Pensei que poderia curtir
Sr. Irênio: "Fui vítima da violência"
minha aposentadoria em paz. Engano. Vivemos assustados, trancados, a casa toda gradeada”, reclama o Sr. Irênio Santana ao lembrar que já foi vítima da violência em São Cristóvão.

“Eu passei o maior constrangimento. Uma freira deixou um material para ser encadernado e quando veio buscar, estava com um envelope embaixo do braço contendo um dinheiro que ajudaria às crianças do orfanato. De repente entrou um rapaz com um revólver engatilhado, colocou na minha testa pediu que entregasse a renda e pegou o envelope da irmã que continha R$ 2 mil.
Eu tinha no caixa R$ 670 e passei. Ele nos trancou e deixou a chave na calçada, avisando que só podíamos gritar depois de cinco minutos. Assim fiz, gritei, gritei e o rapaz do cartório aqui ao lado veio ver o que era. Eu disse que a chave estava na calçada, mas quando ele entrou, encontrou uma situação delicada: a freira chorando muito e eu agoniado. Ele pensou que eu tinha feito mal a ela”, relata o Sr. Irênio, de 72 anos.
Juventude assustada
Thayse e amigas esperam dias melhores

Nas ruas da cidade de São Cristóvão e em conjuntos localizados no município a exemplo  do Eduardo Gomes, jovens reclamam a falta de segurança. “Nós vivemos no interior como se morássemos em São Paulo, no Rio de Janeiro. Aqui não temos vida. Se vamos para a escola, corremos o risco de perder o celular, o tênis. Se vamos em uma lan house, podemos ser assaltados. Se optarmos pela bica ou até mesmo se tivermos de pagar uma promessa no Cristo, podemos ser abordados. Temos praças belíssimas, tombadas pelo patrimônio, mas não ficamos mais de dez minutos”, diz o estudante Davi Lima, que preferiu não aparecer.
“Nós queríamos ficar batendo papo na porta à noite, mas é perigoso. Quando ficamos é até no máximo 21h.
Pessoas começam a deixar a cidade
A violência em São Cristóvão está demais. Os jovens estão sofrendo porque não podem sair para se divertir, nem mesmo ficar na porta de casa”, diz Thayse Santos.

Comerciantes ameaçados
Na área da Bica de São Cristóvão, a insegurança também vem ameaçando os comerciantes. “Eu nasci aqui na Bica. Minha mãe tem bar há 60 anos e eu e meus irmãos, sobrinhos, seguimos o mesmo ramo, mas temos que fechar as portas às 17h no máximo por causa dos marginais. Já entraram em vários bares aqui na redondeza, levaram caixas de som, comidas e bebidas”, conta Rosângela Maria Pinto.
Recentemente, uma comissão de vereadores de São Cristóvão se reuniu com o secretário chefe da Casa Civil, Jorge Alberto quando entregaram um documento solicitando segurança entre outras
Alex Rocha: "Tirando jovens da ociosidade"
reivindicações para o município. O secretário tirou cópias do documento e enviou à Secretaria de Segurança Pública pedindo providências. E na tarde da última quinta-feira, 7, o prefeito Alex Rocha e os vereadores participaram de uma reunião com o secretário da Segurança Pública, João Eloy para cobrar providências por conta dos 20 crimes registrados este ano no município.

Medidas
Na ocasião, o coordenador das Delegacias da capital, delegado Fernando Melo, anunciou o aumento do efetivo local e a abertura das delegacias da cidade de São Cristóvão e do conjunto Eduardo Gomes durante os finais de semana. “Já designamos agentes para reforçar a equipe da cidade e durante os finais de semana, de forma alternada, as delegacias de São Cristóvão e do conjunto Eduardo Gomes funcionarão. Além disso, acontecerão ações em conjunto com a Polícia Militar com o intuito de coibir o crime e cumprir mandados de prisão”, explicou Fernando Melo após a reunião.
“A nossa parte é tirar os jovens da ociosidade, através de programas do Pró-Jovem. Estamos oferecendo escolinhas de futebol e de Box. Já temos até um garoto que participou com vitórias no campeonato brasileiro de Box na categoria dele. Agora, segurança publica é com o governo. Faltam blitzes nas ruas de São Cristóvão, um policiamento mais ostensivo principalmente no Roza Elze, Eduardo Gomes, Divinéia”, entende o prefeito Alex Rocha.
Por Aldaci de Souza

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