quinta-feira, 7 de abril de 2011

Festival de Arte de São Cristóvão: Projeção Nacional e Declinio.

Ficha-Resumo
FILHO, José Ribeiro. Festival de Arte de São Cristóvão: Projeção Nacional e Declinio. In: FILHO, José Ribeiro. Eventos públicos e privados: a elaboração de politicas culturais voltadas para a elaboração da festa. 2008. 145f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Sergipe. Cap.4, p.72-88.




A primeira edição do Festival de Artes de São Cristóvão (FASC) foi realizada em setembro de 1972. O evento foi concebido como parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência. Foi também um dentre diversos festivais universitários, de iniciativa do governo federal, criados no país entre o final dos anos de 1960 e inicio de 1970, com o objetivo de patrocinar intercâmbio cultural, difusão da produção cultural regional e como espaços abertos para descobrir e projetar novos talentos.


Na dinâmica dos festivais consta a realização de oficinas de artes antes e durante o evento principal, a participação de grupos experimentais (dança, teatro e música) criados dentro das universidades brasileiras, voltados para temas da cultura popular (no caso dos primeiros festivais).


Já no final dos anos 70, a grade de programação do FASC sofre modificações , passando a contemplar espetáculos elaborados por profissionais e companhias alternativas dos diversos segmentos, em detrimento dos grupos experimentais universitários.


Em termos de participação da comunidade de São Cristóvão no planejamento e execução do evento, Ribeiro Filho afirma: “O municipio e a sua população participam do evento apenas como cenário e na qualidade de figurantes. Todas as decisões sobre a estrutura do evento e a sua grade de programação eram tomadas pela UFS, que nomeava uma comissão organizadora formada por representantes dos diversos segmentos de arte de nosso estado.” (p.78). Quanto alguns artistas locais se arriscaram a apresentar-se, entraram na programação no horário da tarde, em que quase não havia público (p.78)


Em relação a imagem do FASC perante a populaçao da cidade, Ribeiro destaca três tipos de conceitos: “As opiniões sobre o FASC, dividem-se na cidade, entre aqueles que vêem o festival como ótima oportunidade para ganhar dinheiro com o movimento dos visitantes, os que gostam da programação cultural, e os que se sentem invadidos por uma turba que vem para revolucionar e transgredir o sossego secular da velha capital. (p.79)”


Com o objetivo de pensar aspectos da realização atual do evento e coletar sugestões para o futuro foi realizado dentro da programação do edição de 1991, o seminário “Repensando o FASC” . Nesta discussão tomaram parte representantes de todos os segmentos de arte do estado.


Dentre os temas de destaque, destacou-se a questão da autonomia do festival e a captação de recursos junto a iniciativa privada, prenuncio da decisão de suspensão do FASC, tomada em 1993 pela reitoria da UFS que alegou falta de recursos financeiros suficientes para continuar bancando a realização do festival.


Sobre a relação entre a comissão organizadora do festival e a iniciativa privada, Ribeiro Filho é taxativo: “A comissão organizadora tentava a cada ano realizar parcerias entre o público e o privado, mas a falta de comunicação entre as partes ou de habilidade para convencer a iniciativa privada a participar com recursos financeiros na preparação do evento quase sempre abortou esse tipo de envolvimento. A prefeitura não atentou para a utilização de mecanismos mais coercitivos para forçar , por exemplo a participação financeira das industrias de bebida que tinham uma alta lucratividade com a venda de seus produtos durante a realização do FASC, bastava que a prefeitura instituisse um sistema de cotas para que essas empresas tivessem acesso as áreas e pontos de venda {exclusivos} durante os dias de realização do festival ” (p.87) {acréscimo nosso}


Como fator de aumento de custos orçamentário, começa a acontecer uma mudança de postura de muitos grupos experimentais, amadores, alternativos, academias de danças e grupos folclóricos que evoluem para um comportamento mais profissional, passando a cobrar cachês e assinatura de contrato.


Em 1996 a prefeitura de São Cristóvão resolve bancar a realização de uma nova edição do FASC, contratando uma empresa local de produção de eventos, porém com uma programação acanhada, sem nomes de grande projeção nacional e com um público menor, conforme afirma Ribeiro Filho: “O festival assume as proporções de uma festa localizada de pequena monta” (p.83).


Para o insucesso da empreitada concorreu o fato da prefeitura de São Cristóvão contar com uma arrecadação pequena para poder assumir todos os custos financeiros de um evento como o FASC e também: “a universidade, por ser uma instituição de ensino superior vinculada ao Governo Federal, transitava livremente diante das mudanças na politica interna do estado. A instituição tinha uma maior acessibilidade para a captação de recursos para o evento, até mesmo por sua natureza apolitica. A prefeitura estava mais atrelada a um determinado grupo politico localizado, e por isso acabava sofrendo influência na captação de recurso por parte do Governo do Estado, a depender das coligações em que participou nas últimas eleições” (p.87).


Como última sugestão para garantir a viabilidade financeira do evento, Ribeiro Filho defende a primazia do governo do estado na condução dos rumos do FASC, nos seguintes termos: “O próprio governo estadual continuar a chamar para si a responsabilidade de principal mantenedor das atividades culturais, e até mesmo, porque esse tipo de evento mobiliza uma grande quantidade de visitantes o que gera empregos temporários e renda para as comunidade de São Cristóvão e de Aracaju, locais onde ficam hospedados os artistas vindos de outros estados. (p.88).




Elaborado por Zezito de Oliveira
Professor de História e Artes, Estudante de Pós-Graduação da Faculdade São Luiz – Especialização em Arte-Educação e Produtor Cultural

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